As manifestações de junho de dois mil e treze apresentaram uma interrogativa ainda não compreendida pelas classes conservadores da sociedade, uma afirmativa por parte de toda sociedade incluindo esta mesma classe conservadora e uma negativa histórica.

 Famoso por suas telenovelas, samba, mulata e futebol, o Brasil dos brasileiros que surpreenderam o mundo nesses últimos meses nada entendeu dos reclamos populares que são muitos. Porém nesse discurso aparentemente heterogêneo apresenta-se uma voz uníssona onde o povo, passivo e estafado, reclama por mais direitos. 

  Mas, quais direitos? 

 Vemos nas manifestações,  cada um brigando por seu umbigo, pela sua tribo, pelo seu gueto. Uma lua justa, já que esse é o primeiro momento histórico do Brasil em que o povo reivindica seu direito de indivíduo e sua liberdade constitucional ao qual o Estado, pressionado, responde aos novos argumentos e questionamentos com a velha resposta ignorante; a violência física. 

 Não bastasse a violência física proporcionada pelo Estado à absolutamente todos os cidadãos politicamente ativos ou não, vivemos a já clássica violência psicológica, promovida pelos meios de comunicação de massa, que ganha eco nos discursos das classes mais conservadoras da nossa sociedade. 

  É certo que para mudar basta querer, ter vontade de mudar. Vontade essa que sempre é corrompida pelo ponto de vista de cima. A fragmentação das classes sociais em grupos sociais culturalmente diferentes cria um distanciamento até mesmo entre aqueles pertencentes a mesma classe econômica. Aqueles que não pertencem as classes regentes, que formam uma única casta, estão fadados a se isolarem cada vez mais socialmente. As inúmeras vozes de diversas classes sociais em grupos culturais diversos camuflam as velhas questões étnicas-religiosas, anteriormente com características de sociedades análogas homogêneas. Não cabe nesse momento discutir a individualização do ser promovida por diversos contextos históricos desses últimos três séculos, porém cabe discutir-mos o porquê de todos esses grupos  supostamente "independentes", ou melhor, culturalmente diferentes terem resolvido rebelar-se todos ao mesmo tempo.

  Na contra-mão da voz do povo vem a voz do Estado e todos aqueles que ele defende; construtoras de contratos duvidosos, meio de comunicação monopolizador e a eles mesmo, ou seja, a velha oligarquia nacional. 

  Ao usarem a força do Estado contra os cidadãos, usando do grande meio de comunicação para praticar a política do medo e terror apresentando imagens de jovens, antes esquecidos e barbarizados pelo Estado e seu cacetete, para monopolizar a famosa opinião publica,  acabam por dividir as manifestações entre pacíficos e vândalos. Os vândalos seriam aqueles que em outras épocas seriam chamados de radicais, ou seja, são os jovens utopistas que talvez sejam os únicos em todo esse movimento caótico que tenha um discurso com real apelo político-social. Infelizmente, se há barbárie, há de ambos os lados e é devido ao fato do Estado falhar constantemente seja na educação publica, na saúde publica ou na segurança publica que nunca houve pra quem é pobre. 

  Reduzir as vozes do povo e imprimi-las em imagens de jovens rebeldes, que repito, em qualquer época da história moderna/contemporânea fariam o mesmo, faz-nos refletir no quão a educação é falha no Brasil através do eco dado a fragmentos sociais que se identificam com o discurso conservador. Esses que dizem que o movimento dos Black Blocks esvaziam o conteúdo das manifestações que vêm adquirindo certa unidade, na verdade rompem a real unidade do discurso e da luta pelo fim de uma sociedade de privilégios. Assim, repete-se um discurso pré-formulado e impactado pela produção da imagem conduzida/editada que ecoa através do discurso pacifista que só vem a favorecer  àqueles que estão no poder e constituem uma casta.

  Não defendo a depredação por depredação, porém esquecemos que estes jovem que andam mascarados e que a cada confronto são demonizados pelos agentes de produção de opinião, são os mesmos que sofrem com a falta de uma educação publica, pela falta de uma estrutura familiar, pois muitos viram seus pais serem mortos ou presos injustamente, suas mães fazendo sabe-se lá o quê para dar o que comer, seus irmãos morrendo nas guerras de narcotráfico. 

Curiosamente são estes mesmos jovens ignorantes, vândalos, baderneiros, que tem a visão mais ampla de toda discussão em pauta, pois são eles os que mais sofrem com a truculência, barbárie e vandalismo promovido pelo Estado. 

 O grande fator da panela de pressão ter estourado se encontra na incerteza de futuro que se desenha a todos os jovens.  Há de recordar que movimentos como Black Block onde até a depredação tem discurso, nada tem a ver com a revolta social que vivemos. Eles, os BB, só são mais organizados e se transformaram em alvos por desenterrarem ideologias sociais que desestruturam a ordem vigente, tornando-se assim, os marginais.

  Numa sociedade de privilégio onde todos são marginais, o povo vandalizado pelo Estado ganhou um novo judas onde pode projetar seus desejos e repulsas. Assim como seus atos, chamados pelos conservadores de vandalismo, são símbolos de uma época, a própria existência do movimento passa-se a símbolo; de luta para uns, de "baderna" para outros, do caos da atualidade!

  A ironia se encontra quando vemos jovens, muitos menor de idade, de classes "burguesas", mesmo burgueses, comunistas, anarquistas, liberais de todos os tipos (menos conservadores), vestindo-se de preto, tampando suas caras, destruindo símbolos que promovem seus estilos de vida individualistas e seus guetos culturais. 

  No momento histórico em que era para todos esses jovens estarem trancados em seus quartos jogando video-game, ou endividando-se com prestações em shopping como a maioria passiva da população, esses jovens resolveram tomar porrada por diversão (porque foi institucionalizado a cultura do confronto entre sociedade x policia) e por sentirem-se parte de algo maior. 

 O discurso fragmentado só existe para aqueles que convém com uma sociedade de privilégio, para aqueles que sofrem da velha síndrome do vira-lata e cospem em cima do próprio povo por não compreender seu processo histórico, para aqueles que sobem dois degraus e perpetuam os discursos nocivos e fomentam o tamanho disparate social que vivemos, resumindo, para aqueles que acham que só Deus pode mudar a humanidade, e esquecem que só o homem ajuda o homem e o quanto mais próximo de Deus ( que Deus é esse que afasta?) mais longe do  homem ele se encontra. 

 Se você conseguir sublimar o discurso de fragmentação dos grandes meios de comunicação, verás que o demoníaco grupo de jovens ateus e anarquistas, os Black Block Tupiniquins,  nada mais é que um símbolo contemporâneo de uma luta por uma sociedade de direitos, coisa que o Ministério Publico, o Tribunal Superior de Justiça e as Câmaras (que deveriam ser populares) fazem questão de afirmar o quão necessário é esse tipo de luta.


José Mauro Pompeu _ 10/2013



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